Capítulo II
O mundo Material
Como
vimos no Capitulo I, a raiz do nosso pensamento, que implica nossa
forma de ver e entender o mundo, está diretamente ligada ao
pensamento filosófico grego, e nos ensina que estamos imersos em um
mundo material, concreto, pré-existente ou Criado por Deus, onde
nós surgimos, ou através da criação divina a partir de Adão e
Eva ou através da evolução das espécies a depender da fonte que
escolhemos, a Religião ou a Ciência, Deus ou Darwin.
A ciência moderna, e aqui chamamos de moderna a
ciência pós Albert Einstein, pois as descobertas desse gênio do
século 20 e seus contemporâneos mudaram radicalmente a ciência,
virando de ponta cabeça os conceitos mais sólidos do pensamento
cientifico até então, destruindo os conceitos de Tempo, Espaço e
Matéria que tinhamos como imutáveis.
A física quântica, principal legado da Fisica
Moderna, nos legou uma visão do mundo material muito mais próxima
das verdades do Taoismo e do Zen Budismo do que das leis de Newton e
Descartes.
Neste
capítulo II, vamos aprofundar essas questões relativas ao Mundo
material, a maior parte do tempo usando uma linguagem coloquial para
torná-la acessível a todos e não apenas aos amantes da física e
da matemática, mesmo correndo o risco da perda de precisão. Antes
porém, precisamos fazer uma breve reflexão sobre as definições do
ato de conhecer.
Não há como provar que a mente humana possa conhecer
algo que não lhe chegue através de pelo menos um dos nossos 5
sentidos.
O ato de conhecer o mundo exterior, ou fenomênico, se
dá através de três etapas:
O
contato – quando um dos
sentidos recebe um in-put do meio externo;
A
compreensão – um
pensamento que busca associar a percepção a algo já conhecido;
O
armazenamento – um
registro na memória sobre aquilo que foi percebido.
Nada é armazenado sem esse crivo prévio da mente que
visa associar a nova percepção a algo já conhecido afim de
arquivar o novo objeto numa categoria similar a outras já
armazenadas. Esse processo acelera a percepção da mente, mas em
contrapartida impede que “vejamos” as coisas diretamente, mas sim
através de um “filtro” que nos impede de realmente ver as coisas
como elas realmente são.
Um
fator muito importante no ato de “conhecer” é a atenção.
Nossa mente é bombardeada diáriamente por milhões de “in-puts”
sensoriais, mas apenas uma pequena parte deles será registrado na
nossa memória como “conhecimento”: Somente aqueles para os quais
dirigimos nossa atenção.
Desse modo, tudo o que conhecemos do mundo à nossa
volta, próximo ou distante, nos chega através dos nossos sentidos e
registramos na memória uma pequena parte, selecionada pela aenção.
Então, vamos analisar os processos de apreensão do
mundo de que dispomos:
A
Visão
A visão é sem dúvida
o mais poderoso dos nossos sentidos.
Nossos olhos
recebem ondas eletromagnéticas das mais diferentes frequências,
desde as baixas (infra-vermelhas) até as altíssimas (ultra
violetas) mas, só consegue ”ler”, ou seja, só é sensivel ao
espectro visivel, do vermelho ( 3,84 1014
Hz) ao violeta (7,7 1014
Hz).
Isso é tudo que nos
chega do ambiente externo, vibrações eletromagnéticas: nosso ôlho
recebe e concentra os raios luminosos em um feixe e o projeta no
nervo ótico, que coleta e encaminha até o grupo de neurônios
encarregados da “visão”. Sua mente, então, literalmente
“constrói” a imagem daquilo que esta à sua frente, e ainda
“calcula” a distancia e o tamanho da coisa em si.
Suponha então que você
está vendo uma pessoa.
Caso seus olhos não
fossem sensíveis ao espectro visivel e sim as frequencias que
chamamos de raios X, seria esta a imagem que sua mente construiria
pra você :
Porem, se ao invés de
ver as frequencias elevadas de raio X seus olhos fossem sensíveis as
frequencias baixas de Infravermelho, seria essa a imagem construida
pra você:
Então, não é
necessário explicar o quanto o seu mundo Real é
dependente do seu instrumento de investigação e captura da
“realidade”.
Se
você estender essa mesma abordagem aos demais sentidos, verá que é
exatamente o mesmo processo.
Audição
Seu
ouvido recebe vibrações do ar (ou da água caso você esteja
mergulhando). O timpano vibra em ressonacia com eles, junto com os
pequenos ossos auditivos martelo
e bigorna, e
juntos enviam essas
vibrações ao nervo auditivo, este aos neurônios que produzem pra
você, som, ruido, musica, ou que quer que seja.
Da
até pra enganar o cérebro: o som de um tambor ou da voz humana
poderá estar vindo do próprio ou de uma gravação em disco, mas
como a vibração é a mesma sua mente lhe informará que está
ouvindo o som de um tambor ou uma voz.
Aqui
mais uma vez fica claro que tudo que lhe chega são vibrações do ar
num range de frequencia entre 20 e 20.000 hz, pois fora dessa faixa
seus ouvidos não conseguem vibrar junto e os ignoram. Sua mente faz
a leitura e lhe entrega como resultado os “sons.”
Paladar e
olfato despensam maiores explicações.
São
analizadores de partículas, moléculas para as quais são sensíveis.
A partir delas lhe produzem odores e sabores os mais variados.
São tambem
suscetíveis a enganos.
Os fabricantes
de bebidas e comidas processadas já se especializaram em “imitar”
o sabor e o odor de frutas, legumes, carnes, etc...
O tato é
talvez sentido mais dificil de admitirmos que pode ser enganado.
Afinal, quando
esta na sua frente uma rocha sólida e você tenta atravessar, seu
tato lhe mostrará que ali está uma barreira intranspovível !
Então não há como dizer que podemos estar sendo “enganados pelos
nossos sentidos” Não é isso mesmo ?
- Errado
Há sim, e
vamos demonstrar como e porque.
O indice de vazios da matéria sólida
Desde ou primórdios da tempos, o
homem investiga a natureza da matéria sólida. Afinal, do que são
feitas as coisas que chamamos matéria?
Os primeiros alquimistas deduziram que
tudo que existia era feito de quatro elementos básicos, terra, água,
fogo e ar, ou elementos básicos que misturados em diversas
proporções formavam tudo o que existe. Muito embora Leucipo de
Mileto e Demócrito já houvessem enunciado no século IV A.C. que a
matéria era composta por pequenas esferas chamadas átomos, ninguém
deu muita bola pra eles.
Precisaram muitos séculos para que
essa visão fosse retomada, sistematizada pela primeira vez por John
Dalton, que afirmava que todas as coisas era feitas de pequenas
partículas indivisíveis que respondiam pela diversidade de tudo que
existe. Dalton manteve o nome grego : àtomos.
O primeito modelo idealizava os átomos
compostos de um núcleo sólido e muito compacto foi apenas mais
tarde que Joseph Thompson descobriu várias particulas de carga
eletrica negativa girando em voltado núcle as quais chamou de
elétrons.
O aprofundamento dessa teoria levou aos
modelos de átomos com diferentes pêsos e com diversos números de
eletrons que justificavam as diferenças entre os diversos tipos de
materiais existentes: sólidos, liquidos, gases, cristalinos,
amorfos, etc...
Hoje sabemos que os eletrons na verdade
não giram, eles tendem a ocorrer em algum ponto da órbita de forma
aleatória sendo impossivel determinar sua posição num dado
instante.
Foi somente em finais do século 19 com
o advento dos microscópios eletronicos e a construção dos
aceleradores de partículas que a composição dos átmos foi
gradualmente detalhada, trabalho que1
está em curso até hoje.
No inicio eram apenas Prótons e
Neutros no núcleo e elétrons na cabeleira. Hoje já são mais de
400 partículas sub-atômicas descobertas em colisões forçadas nos
aceleradores de partículas.
Sabemos que os protons, neutrons e
outras partículas do núcleo não estão parados, mas em frenético
movimento e guardam entre si uma certa distância.
Sabemos que, se ampliassemos um nucleo
atômico até que este tivesse o tamanho do noso sol, os eletrons
estariam nas posições em que estão os planetas do sistema solar ,
mas seriam bem menores que eles. Ou seja, um átomo é formado por
muito mais “vazios” do que “cheios”.
Caso suprimíssemos todos os espaços
vazios de todos os átomos que compõem um ser humano juntando tudo
numa massa compacta com a densidade de um nucleo atômico, toda a
humanidade, isso mesmo, todos os 7 bilhões de pessoas caberiam num
dedal, daqueles que as vovós do século passado usavam para proteger
os dedos na hora de costurar! Cerca de 1 cm3
Assim é a pretensa “solidez” da
matéria !!!
No seu livro intitulado “O Tao da
Física”(2) de autoria do fisíco de origem indiana
Fritjof Capra, este propôs um interessante experimento teórico
para testar a “realidade” como nós a concebemos.
O experimento propõe que você encolha
até a dimensão de um núcleo de hidrogênio mantendo porém seus
sentidos e capacidades cerebrais, e então saisse “andando” por
aí.
Como seria o munto visto e sentido por
você?
Bem, o que você veria seria algo
parecido com a imagem abaixo:
Você poderia então atravessar
paredes, portas, janelas, nada seria “sólido” para seu minusculo
corpo.
Na verdade sua visão do mundo seria
muito parecida com a de uma nave espacial viajando por nossa galáxia,
cruzando imensos espaços vazios pontilhados por estrelas e planetas,
que no seu caso seriam núcleos atómicos, elétrons, quarks, fótons,
e outras partículas sub-atômicas.
Onde estariam então todos esses
objetos que você identifica agora quando no seu tamanho normal?
Essa experiência é por si só
suficiente para comprovar que as “coisas” as quais nós
atribuimos uma existência autônoma e independente, na verdade só
existem assim como as concebemos porque nós estamos aqui e temos
essa dimensão e dispomos desses sentidos e dessa mente que os produz
para nós a partir dos inputs sensoriais que recebe: Elas são
como são porque nós somos como somos.
Como explicar que uma realidade tão
concreta e autônoma deixe de existir simplesmente porque você
encolheu?
Uma pergunta deve surgir na mente de
todos sobre essa natureza tão “vazia” que acabamos de descrever:
- Se é assim porque então nossas mãos não atravessam paredes? Porque os corpos físicos não se interpenetram revogando a lei da física que atesta que “dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço”.Bem, essa questão perdurou até bem pouco tempo sem solução até que os cientistas da física moderna encontraram a resposta.
- O movimento acelerado das núvens de elétrons em torno do núcleo atômico gera um campo magnético de tal intensidade que funciona como uma espécie de “campo de força” eletroutmagnético que impede a interpenetração. Mas não é absolutamente por falta de espaços vazios. Partículas aceleradas podem passar por esse campo de força com relativa facilidade. Aliás é o que acontece quando temos um vazamento numa usina atõmica: os milhões de partículas que vazam atravessam nossos corpos destruindo células dos nossos
corpos produzindo doenças como o
câncer por exemplo.
O procedimento de raios X e gama que
nós utilizamos com frequencia para investigar o interior dos nossos
corpos ou de estruturas de concreto são um bom exemplo disso!
O feixe de raios X atravessa toda a
extensão do corpo humano indo impressinar um filme colocado na outra
extremidade. Ocorre alguma atenuação causada pela absorção de
parte das partículas pelos tecidos mais densos do corpo como ossos
por exemplo gerando uma imagem que nos é bastante familiar.
Então podemos verificar que a
existencia de um mundo concreto, pré-existente e autônomo
independente do observador, não faz parte da nossa experiência
real!
A única parte real são vibrações
eletromagnéticas, ondas de choque no ar, ondas de calor, partículas
e campo de força magnético que nossos sentidos captam e nosso
cérebro transforma em Imagens, Sons, Odores, Sabores e Resistencia-
Textura-Temperatura.
Numa síntese de tudo isso, podemos
dizer sem mêdo de errar que nosso mundo externo, Real, é na verdade
construido por nós, para nós pela nossa mente.
Mas porque a surpresa? Emmanuel Kant já
havia declarado no seu livro “A Crítica da Razão Pura” em 1781:
“ Não há como provar a existência de nada fora da mente humana”.
Poucos entenderam.
No capítulo III a seguir vamos falar
sobre o Espaço e o Tempo sob a ótica da Não-Dualidade.
Não ficará pedra sobre pedra !
1The
Tao of Physics, 1975 California, Editora Capra